quarta-feira, setembro 26, 2007

O (des)controle da imagem pública.



Conhecemos muita gente que deseja mostrar-se bem, aparentar tranqüilidade, representar jovialidade - a função do rosto é muito mais do que um cabide para o nariz, olhos, orelhas, cabelo e boca(bigode, às vezes). Nos trejeitos dos braços uma segurança que dá crédito e que arranca a atenção de uma platéia. Sua figura humana ostenta sensatez e credibilidade. Mas sempre haverá aquele que dirá, ''tá vendo a sobrancelha dele(a)?Parece que apararam com faca de açougueiro''', ou então, '''olha que engraçado, ele(a) manca de uma perna, é o famoso ponto e vírgula''.

Estes exemplos querem demonstrar a posição frágil do homem diante de um mundo centrado na cultura de massa, na exclusão das minorias e das diferenças culturais. De certa forma, o fenômeno da cultura de massas ajuda o pesquisador de comunicação, pois, ao trafegar por entre grupos de receptores, compreende que na consciência de um coletivo há uma série de valores, signos e repertórios que se repetem, ou que se revelam bastante semelhantes.

Um bom comunicador que manca em seu andar, não sendo o Roberto Carlos, será tido como um aleijado que fala bonito - ele não quer ser isto, mas a sociedade assim o quer. O ''rei'' Roberto, ao esconder sua deficiência de seu público age com sabedoria, pois sabe que o modelo de cantor aleijado não é hegemônico no seio de sua sociedade. Nelson Ned, em contrapartida, tendo de conviver com algo impossível de se esconder, é lembrado muito mais por sua condição anã que por seus hits populares.

É e diante dessa eterna possibilidade de desconforto, de desencaixe, de inadequação, que a figura do assessor de imagem faz tanto sucesso no meio artístico. Ele observa a cultura do artista e a transforma em algo aceitável pelas massas. E isto não serve somente para o ser humano. A prática pode ser aplicada a estilos musicais, tendências da moda, estéticas cinematográficas, livros, revistas, jornais, enfim, praticamente tudo que possa ser entendido ou visto como produto.

A solução para aqueles tantos que não têm condições de tirar dos bolsos alguns caraminguás para pagar um assessor com essa especialidade é se atentar à mídia, aos meios de comunicação de massa, que trabalham com aquilo que é visto como hegemônico, melhor, superior, aceitável pelo seu público; ou então, sendo um ''Nelson Ned'', que aceite a crueldade ao seu redor como algo inevitável. A condição que lhe é imposta provém de uma força impossível de se conter a curto prazo.

E levando em conta o alcance dos meios de comunicação de massa, concluiremos que a fórmula do sucesso está na reprodução de um conteúdo que reafirma os valores da maioria e que por assim dizer segrega uma minoria que não vê com empatia o modelo de cultura apresentado.  
 
É por esta linha discussão que chegamos a origem dos complexos, do bullying nas escolas, dos adjetivos pejorativos como ''baianão'', ''cabeça chata'', ''pobre'', do racismo, do preconceito de gênero e de classe social, dos playboys e seus carrões, das meninas e suas bolsas Luigi Vitton, do moleque com o mesmo corte de cabelo do Alemão do BBB, da disputa pelo melhor celular, da etiqueta à mostra do Jeans, dos estrangeirismos que nem sempre representam uma evolução lingüística, dos altos índices de audiência das novelas e da falta de fôlego deste que vos escreve, que trouxe à tona nem mesmo uma resma, sequer uma quirela, de como este bolo imenso apelidado de Indústria Cultural ncomoda as nossas vidas.

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